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Crônica da maternidade.

Estou aqui com você dormindo no meu colo, uma segunda-feira de manhã, depois do dia das mães - o primeiro com você do outro lado da pele. E aconteceu o que de tempos em tempos acontece, sinto meu coração se expandindo e se abrindo mais pra te amar, pra amar nossa vida, pra amar nossa existência juntas. 

É tão bom ter a consciência de que esse amor não precisava acontecer por inteiro no momento em que você nasceu, e que será uma construção do nosso vínculo no dia a dia por toda nossa vida. Isso me tira um grande peso e é libertador. 

Não me identifico com palavras que são escritas nesse dia que celebramos as mães, como, “você é meu raio de sol” “meu tudo, minha vida” “depois que me tornei sua mãe tenho sentido na vida”.

Eu acredito que isso pode te dar um peso danado pra carregar, colocar você nesse lugar de ser tudo e me dar sentido pra viver, me parece injusto com você e um fardo difícil de carregar. Talvez porque eu me coloquei nesse lugar com a minha mãe e posso ter um pouco de aversão a isso, ou talvez eu esteja consciente mesmo e escolho não te dar esse lugar pesado, e ao invés disso, apenas desfrutarmos desse amor que a cada dia se torna mais leve, alegre e gostoso de viver. 


Pois foi assim que eu intencionei desde o dia em que descobri você em meu ventre: que sua vida seja gostosa de viver, pequena Nina. 

Sinto que essa benção que faço a você todos os dias envolve todo o resto que é necessário para viver uma vida prazerosa. E eu estou dando e sempre darei o meu melhor para construirmos juntas essa jornada. 

Me trabalho diariamente para poder ir abrindo os caminhos, muitas vezes fico envolta em minhas próprias sombras por mais tempo do que deveria, afinal agora sou mais Deméter do que Perséfone. E preciso voltar pra luz e superfície pra te nutrir, te cuidar, te proteger, te sustentar, te guiar… 

Mas eu sou essa mulher que mergulha profuuuundo, que pego minha chama de luz e adentro a floresta desconhecida, me desbravo, me exploro, me desvendo. E como é tão importante para mim me reconhecer e me assumir sendo assim, ainda mais depois que você nasceu. Parece que me perdi, mas estou me reencontrando, catando as partes que sobreviveram e deixando morrer as que morreram, ou até mesmo assassinando algumas delas. Foi necessário e LIBERTAdor. 

Eu sempre soube que eu vim pra trabalhar, não vim aqui de bobeira e nem a passeio, mas olha… a maternidade é disparada a maior revelação de mim mesma. 

E então você acorda, me olha com essa carinha amassada de sono e suada de quem estava dormindo grudada em minha pele. Sorri e já começa a conversar na sua língua tatata. Meu coração e meus olhos transbordam as águas das minhas emoções. 

Eu desejo que todas as mães tenham condições de ninar e amar suas crias, eu desejo que todas as criam tenham colos, afetos e pele para grudar enquanto quiserem. 

Eu desejo que o fardo pesado que nos foi imposto seja a cada dia mais solto e entregue pra essa terra que nos sustenta. E que a Grande Mãe nos ampare sempre, e que possamos confiar para deixar de sermos consumidas por culpas envenenadas. 

Viva a maternidade! Viva a diversidade de maternar! Para sermos mães suficientemente boas! Por mais leveza, beleza e gentileza no maternar. 

Que assim seja. Assim é! 

 
 
 

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