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Relato poético de parto.

Quando o sol se vai, me bate uma tristeza, uma espécie de melancolia com saudade. Eu às vezes já sentia isso antes, mas agora tenho sentido ou percebido mais. Deitadas na cama e vendo o sol se pôr na janela, sabendo que a escuridão vai chegar e junto dela, mais desafios e talvez olhos abertos à noite inteira. A madrugada me assusta. Minha mãe também não gostava dela, será que é por isso que eu também me sinto assim? Pode ser. 

Pari durante a madrugada, mas ali se fosse dia não faria a menor diferença, eu só via que não amanhecia, mas não tinha ideia do tempo que corria. 

Só da presença do que vivia. A cada contração me retorcia. Achei que não conseguiria, mas sempre me vinha as frases que eu tanto me repetia: você vai conseguir! Mulher selvagem me guia! 

Estou protegida e amparada pela Terra, força na natureza divina. 

Na verdade, eu nem sei se eu pensava ou se apenas sentia e intuía. 

Instinto puro e primitivo de fêmea que pari sua cria. Uma cria instintiva e tão puramente selvagem. Ela seguiu instintivamente o caminho longo e escuro para vir pro outro lado da pele. E eu fui ao seu encontro sustentando, gritando e empurrando tudo. Não havia outra direção, nem pra ela e nem pra mim, tínhamos que passar por ali, tínhamos que prosseguir. 

Ela descendo do ventre pelo túnel escuro em direção ao portal vaginal e eu na força ajudando-a a vir pra Terra. 

Nesse momento ela encarna na carne e eu na minha potência. É visceral. Carnal. Espiritual. 

Meu corpo sabia o que fazia e só depois me avisava dos comandos, eu obedeci. Assim como toda gestação, em sua grande e natural sabedoria, conduziu perfeitamente o desenvolvimento de minha filha. No parto não foi diferente, ele conduzia e eu sentia e respondia. 

“Dói, mas não machuca.” Escutei muito essa frase da minha amada doula, Flávia. Dói mas traz a vida. Dor de vida. Acho que com o parto compreendo que mesmo com dor não há necessidade de sofrimento. Eu senti a dor mais intensa e profunda de toda minha vida, dor que não era só física. Aquilo me abria por inteira, pulsava e contraía. Mas eu não sofria. E quando repetia que não conseguiria, a força serena dele me dizia: Ela está vindo! 

Dentro de mim eu sabia, mas com o Renan junto de mim, eu tinha mais certeza. Eu o buscava em cada contração, em cada empurrão, em cada olhar. Me lembro das poucas que senti com ele afastado de mim, e ali sim elas doíam mais. De mãos dadas com ele eu poderia suportar. 

Vendo ele chorar, fomos sentindo a presença da Nina nos guiar, as águas nos embalaram e ainda sem acreditar como de cócoras fui parar, com a força das mulheres parideiras ali presente. Eu a vi e a senti do outro lado da minha pele. 

 
 
 

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